Imagine um lugar onde convivem em harmonia moças e “monstras” de família, artistas frustrados, ex-celebridades, trabalhadores, desempregados, devassas, solteironas amarguradas, orientais ranzinzas, gays com um pé fora do armário, tarados virtuais, ursinhos de pelúcia maléficos, humanos e bonecos igualmente desbocados e irreverentes.
Esta é a ‘Avenida Q‘, musical que surgiu de mansinho em 2003 no circuito Off-Broadway, no Vineyard Theater, quando o espetáculo venceu o prêmio Lucille Lortel Outstanding New Musical, bem como uma nomeação para o prêmio Outer Critics Circle Outstanding Off-Broadway Musical.
Apenas quatro meses depois, estreou no Golden Theater, de onde nunca mais saiu de cartaz, sagrando-se vencedor de três Tony´s (Melhor musical, melhor música original e melhor libreto). O sucesso de ‘Avenida Q’ na Broadway foi tamanho que logo o musical ganhou uma versão em Londres, agraciada com o Variety Club Award de melhor musical.
‘Avenida Q’ chamou a atenção desde o início por seu formato inusitado, ao mesclar personagens humanos com bonecos, manipulados pelos atores que permanecem em cena durante todo o espetáculo. À primeira vista, esses bonecos podem remeter ao universo infantil e lúdico de programas célebres como ‘Vila Sésamo’ e ‘Muppet Show’ – fontes de inspiração declarada dos criadores Robert Lopez e Jeff Marx, que assinam letra e música, ao lado de Jeff Whitty, autor do libreto. Entretanto, canções como ‘Se você for gay’ e ‘Todo mundo é meio racista’ não deixam dúvidas de que o alvo do espetáculo são os maiores de idade. O diretor Charles Möeller foi enfático: “Avenida Q é um musical de bonecos para adultos“. Claudio Botelho, autor da versão brasileira, complementou: “É o mais irreverente dos musicais atuais“.
Charles e Claudio assistiram o musical na Broadway e foi paixão à primeira vista. “Saí de lá completamente alucinado, com a certeza de que montaria no Brasil, mesmo sendo um musical tão diferente, com o uso de bonecos, que é um elemento com o qual jamais imaginei trabalhar“, revela Möeller. “Depois assisti à versão londrina e percebi que o humor é universal e o espetáculo atrai a juventude de forma impressionante. Os adolescentes iam com camiseta, botton, gorro. Os bonecos viraram uma celebridade“, complementou.
A ousadia do musical conquistou Charles Möeller. “Acho corajoso montar, em tempos tão politicamente corretos, um espetáculo que não tem medo de ser politicamente incorreto e de mexer com tabus como racismo, homossexualidade, sempre com muito humor e ironia. A peça discute temas profundos de uma maneira muito leve“, afirma. “O espetáculo fala desses assuntos sem meias palavras“, acrescentou Botelho.
Na criação da variada galeria de personagens reside uma das maiores riquezas de ‘Avenida Q’. “O mundo só quer saber dos vencedores, mas, na verdade, os especiais e os eleitos são muito poucos. A vida é feita pelo segundo time, pessoas que também tem ótimas histórias para contar“, afirmou Charles. “Esse espetáculo fala especialmente de aceitação. Humanos e bonecos convivem harmonicamente e rindo de tudo, inclusive uns dos outros. O humor é a melhor maneira de chegar perto de si mesmo“, finalizou.
Na versão de Möeller & Botelho, oito atores dividiram o palco com 16 bonecos, vindos diretamente dos Estados Unidos, com concepção e desenho de Rick Lyon.
“Queríamos reunir um primeiro time dos musicais e costumo dizer que selecionei um elenco kamikaze, de pessoas com uma dedicação integral ao projeto, que envolve canto, dança e ainda a manipulação de bonecos, o que exige um esforço quase sobre-humano“, explicou Charles.
Para Claudio Botelho, embora a essência do texto permaneça absolutamente fiel ao original, foi necessário realizar transposições para o universo brasileiro. “Mantivemos a ação na Nova York original, mas foram feitas diversas adaptações e aproximações com o universo brasileiro, incluídas aí “liberdades poéticas” com a nossa política, geografia, termos nacionais e etc. Nossa história se passa então lá mesmo, num canto menos valorizado do Village, mas poderia perfeitamente rolar em qualquer recanto do Rio ou São Paulo“, explicou.
‘Avenida Q’ ganhou o Prêmio Contigo! de Teatro de melhor espetáculo musical em versão brasileira.
Ficha Técnica
Música e Letras
Robert Lopez
Jeff Marx
Argumento
Robert Lopez
Jeff Marx
Concepção e Design dos Bonecos
Rick Lyon
Versão Brasileira
Claudio Botelho
Direção
Charles Möeller
Direção Musical
Marcelo Castro
Orquestrações
Stephen Oremus
Supervisão Musical
Claudio Botelho
Cenário
Rogério Falcão
Figurino
Mareu Nitschke
Design de Luz
Paulo César Medeiros
Design de Som
Marcelo Claret
Visagismo
Beto Carramanhos
Coordenação e Manipulação dos Bonecos
Zé Clayton
Vídeos
Renato Jabuka
Diretora Assistente
Paula Sandroni
Coordenação Artística
Tina Salles
Produtores Associados
Bottega D´Arte
Dalva de Abrantes
Marcos Amazonas
Marcos Mendonça
Direção de Produção e Produção Executiva
Francisco Accioly
Tereza Durante
Produtora Assistente
Malu Allen
Pianista Ensaiadora
Zaida Valentim
Realização
Bottega D´Arte
Elenco original (Temporada RJ)
André Dias (Princeton / Rod)
Sabrina Korgut (Kate Monstra / Lucy de Vassa)
Claudia Netto (Japa Neuza)
Renato Rabelo (Brian)
Fred Silveira (Nicky / Trekkie Monstro)
Maurício Xavier (Gary Coleman)
Renata Ricci (Dona Coisa Ruim / Ursinha do Mal)
Gustavo Klein (Ursinho do Mal / Recém-Chegado)
Músicos
Regência – Zaida Valentim
Teclado 1 – Zaida Valentim / Luciano Magalhães (alternantes)
Teclado 2 – Heberth Souza / Priscilla Azevedo (alternantes)
Guitarra/ Banjo/ Violão – Thiago Trajano / André Dantas / Juan Pablo Martin (alternantes)
Bateria – Márcio Romano
Baixo Elétrico e Acústico – Omar Cavalheiro / João Mario Macedo / Fabio Cavalieri (alternantes)
Sax/ Flauta/ Clarinete – Alex Freitas / Marco Moreira (alternantes)
Galeria
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