O Estado de São Paulo (20/12/17):
Por Ubiratan Brasil
Um dos maiores musicais da história, West Side Story ganhará uma montagem fiel ao original. Será em julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e será um dos eventos que vão celebrar o centenário de nascimento do autor da música, Leonard Bernstein. “Teremos apoio de entidades americanas para o projeto”, contra o diretor artístico do espaço carioca, André Heller-Lopes, autor da ideia. “E vamos reproduzir até mesmo a coreografia original, que é dificílima”, completa Claudio Botelho que, ao lado de Charles Möeller, participará da equipe criativa.
A montagem contará ainda com a regência do americano Ira Levin, que foi diretor artístico e regente do Municipal de São Paulo. “Nosso projeto é ampliar a oferta de programação para o público com títulos de grande qualidade”, diz Heller-Lopes, que deverá contar com o apoio da embaixada americana.
E a escolha não poderia ser mais acertada. Versão moderna de Romeu e Julieta, metáfora sobre a ameaça que os imigrantes significam a um país rico, a eterna briga pela conquista do território – West Side Story ainda provoca leituras diversas, mas em um detalhe todos são unânimes: trata-se do musical que revolucionou a Broadway. Quando foi montado, em 1957, surpreendeu não só pelos temas, mas por apresentar uma ação que passava para a dança de forma natural, como se a coreografia fosse extensão dos movimentos dos atores. No Brasil, houve apenas uma montagem profissional, dirigida por Jorge Takla, em 2008, estrelada por Fred Silveira e Bianca Tadini.
West Side Story, um clássico de cara nova
Nenhum cuidado é excessivo, afinal a criação original de West Side Story uniu uma equipe ainda imbatível na história da Broadway. Jerome Robbins, que se tornou o modelo máximo do coreógrafo-diretor, teve o controle total da produção, desde a concepção até a montagem final; Leonard Bernstein, com quem Robbins havia iniciado uma brilhante parceria anos antes, compôs as músicas; Stephen Sondheim, na época um jovem de 20 anos que contava apenas com o apoio do grande Oscar Hammerstein, escreveu as letras das canções; e Arthur Laurents, então um dramaturgo promissor, cuidou do libreto.
A história é ambientada no subúrbio de Nova York, onde duas gangues rivais, os Jets (os nascidos americanos) e os Sharks (imigrantes porto-riquenhos), lutam pelo domínio do bairro. Em meio a tanta incompreensão, Tony, um dos fundadores dos Jets, se apaixona por Maria, a irmã de Bernardo, comandante dos Sharks. O amor impossível, que faz lembrar Romeu e Julieta (inspiração inicial da história), é fadado ao fracasso, uma paixão irrealizável graças ao racismo e à xenofobia americana.
Como lembrou Takla ao Estado, na época de sua montagem, trata-se de obra musicalmente complexa, em que atores devem cantar e dançar de forma natural, sem parecer uma demonstração de técnica. De fato, escrito como se fosse uma ópera, o musical exige cantores com vocação lírica para os papéis principais. Mais: em uma das mais célebres canções, Maria, o ator que interpreta Tony necessita alcançar uma nota difícil, o si bemol. Em West Side Story, os números musicais ajudam a narrar a trama e definem o caráter dos personagens. Daí a comprovada importância dos papéis considerados secundários.