Ronald Villardo (O Globo): A experiência trans-nostálgica de ver Renato Aragão no palco

Ronald Villardo conferiu Os Saltimbancos Trapalhões - O Musical e escreveu esse delicioso texto!

Ronald Villardo conferiu Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical e escreveu esse delicioso texto!
NESTA VOLTA de férias gostaria de retomar os trabalhos do blog narrando a experiência inédita de conferir a estreia dos maiores ícones pop do país (seriam os maiores?), Renato Aragão e Dedé Santana, no teatro. O espetáculo é “Os Saltimbancos Trapalhões”, musical com a grife Botelho-Möeller em cartaz na Cidade das Artes.

Eu não entendo PATAVINAS de teatro mas entendo de Trapalhões. Era o programa certo do domingo à noite, em tempos que precederam a era da consciência (acertada) acerca do politicamente correto no humor. Há muita incorreção política no espetáculo, desde o deboche diante do olhar “delicado” do Sargento Pincel, até as palavras pronunciadas incorretamente pelo personagem Didi, como “cafuso” ou “popotizando”. São coisas que só Didi pode fazer. Ninguém mais tem essa autorização pop nos dias de hoje.

Antes de conferir o resultado final de “Saltimbancos” no palco, acompanhei um dos ensaios e fui apresentado pessoalmente ao Renato Aragão. E aí tudo fica ainda mais surreal. Diante de um personagem tão popular, você não sabe se tira uma selfie (não faço muito essa linha de “selfie com estrela”, só abri uma exceção quando conheci o Ricky Martin porque ninguém é de ferro, né?) ou se agradece ao ícone diretamente por uma infância mais divertida. No fim, não acontece nada disso, porque ele começa a falar tantas coisas engraçadas, como se também me conhecesse há séculos, só que não, que só resta rir com ele mesmo. Renato é o dono do jogo. Portanto, não dá pra dizer que vê-lo atuando novamente desperta sentimentos nostálgicos. Conferir a volta de Didi provoca uma espécie de trans-nostalgia, que mescla passado com presente. E que presente.

O palco do teatro da Cidade das Artes, a herança maldita do governo Cesar Maia, é assustador. Lembro-me de ter pensado na sinuca que deve ser para os que lá se apresentam encher um palco daquele tamanho. Vi “Rock in Rio, o musical” e não acho que a montagem tenha sido bem sucedida no desafio. Confesso que fiquei me perguntando como seria com “Saltimbancos”.

Eis que o palco virou um circo, claro. Só que envolvido numa moldura gigantesca que emula os contornos do picadeiro propriamente dito e aí tudo se acerta. O espetáculo fica “arrumado” ali dentro, não parece perdido no meio de um espaço interminável. E nem vou falar dos leões gigantes manipulados pelos acrobatas e do cachorrinho fantasmagórico. Aquele bicho se mexe sozinho de noite, tenho certeza.

E como canta esse elenco, hein? E a Giselle Prattes é aquele tipo de mulher que faz gente não muito familiarizada com o assunto reconsiderar tendências. Ah, falei.

Agora, o melhor de tudo é, mais uma vez, Adriana Garambone. Juro que saí do teatro só pensando em… VEGAS! Basicamente…

Fonte: Blog Ronald Villardo – O Globo – 27/10/14.