CHARLES MÖELLER & CLAUDIO BOTELHO DESBRAVAM O UNIVERSO DE FELLINI EM ‘NINE’
Lançado em 1963, o filme ‘8 ½’ estabeleceu a consagração definitiva de Federico Fellini como um dos grandes cineastas de todos os tempos. Saudado pela crítica como obra-prima, o longa recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e representou uma quebra de paradigmas, ao misturar diversos planos narrativos. Mais de vinte anos depois, em 1982, o clássico felliniano deu origem ao musical ‘Nine’, que também promoveu uma ruptura estética na Broadway e seguiu uma carreira de sucesso, com incríveis 1729 sessões e cinco prêmios Tony, incluindo o de Melhor Musical.
Após inspirar o filme homônimo (dirigido por Rob Marshall em 2009), ‘Nine’ ganhou, em 2015, uma inédita versão brasileira, em espetáculo dirigido por Charles Möeller & Claudio Botelho. ‘Nine – Um Musical Felliniano’ (o subtítulo é exclusivo da montagem brasileira) foi a primeira produção teatral a desembarcar no palco do Teatro Porto Seguro, em São Paulo.
O ator italiano Nicola Lama (‘Um Violinista no Telhado’, ‘O Mágico de Oz’) teve o desafio de interpretar Guido Contini, o protagonista que já foi vivido por Raul Julia (1982) e Antonio Banderas (2003) no teatro e por Daniel Day-Lewis no cinema. Ele era o único homem em um elenco formado por atrizes de gerações e referências diversas, como Beatriz Segall – que fez sua estreia, aos 88 anos, em teatro musical – e Malu Rodrigues, já uma ‘veterana’ em seu nono musical, aos 20 anos. Estrela de ‘Gypsy’, Totia Meireles retomou a vitoriosa parceria com Möeller & Botelho, enquanto Carol Castro, Leticia Birkheuer, Karen Junqueira, Myra Ruiz e Sonia Clara fizeram seu primeiro trabalho com a dupla.
Sobre mulheres, crises e memórias
Em cena, Guido Contini, diretor de cinema conhecido internacionalmente, está em uma grave crise criativa, sem saber como desenvolver o seu próximo projeto. Para fugir das tensões, ele resolve passar alguns dias em um SPA em Veneza, onde encontra – em diferentes planos, como realidade, memória, fantasia, sonho – todas as mulheres de sua vida: a mãe (Beatriz Segall/Sonia Clara), a esposa (Carol Castro), a amante (Malu Rodrigues), a musa de seus filmes (Karen Junqueira), a prostituta (Myra Ruiz) e a produtora de seus filmes (Totia Meireles).
‘A mulher é a força da natureza, ela gera, concebe e cria. ‘Nine’ fala sobre o poder das mulheres e profetiza que a vida é uma festa de beleza e amor pelo sexo feminino’, ressaltou Charles Möeller, que relacionou ainda a narrativa de Fellini com a obra do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875 – 1961): ‘‘8 ½’ é o mais junguiano dos seus filmes. Ele descobriu todos os seus arquétipos e ‘animas’ e os colocou no filme, que é uma cartilha de signos, sonhos e enigmas’, analisou Möeller.
Por conta da estrutura fragmentada e da falta de compromisso com o realismo, Charles Möeller relacionou ‘Nine’ à vertiginosa dramaturgia de Nelson Rodrigues em ‘Vestido de Noiva’. A peça se passa toda dentro da cabeça do Guido, seguindo a lógica de um sonho, onde ele reencontra fantasmas do passado, revê suas musas e tenta criar o seu próximo roteiro.
Os diversos planos de ação surgem juntos, o que foi aproveitado na cenografia de Rogério Falcão, nas coreografias de Alonso Barros e Charles Möeller e no desenho de luz de Paulo Cesar Medeiros. Se Falcão, Barros e Medeiros acumulam dezenas de trabalhos com Möeller & Botelho, o estilista Lino Villaventura fez a sua estreia no teatro musical, ao assinar os figurinos do espetáculo. A coordenação artística foi de Tina Salles, parceira de longa data dos diretores.
Uma saga italiana
Com a estreia de ‘Nine – Um Musical Felliniano’, a obra atemporal do diretor italiano ganhou mais um capítulo em sua bem-sucedida trajetória. ‘Fellini era amante dos musicais e a música sempre tinha um papel fundamental em seus filmes. A sua parceria com o compositor Nino Rota é um acontecimento na história do cinema’, ressaltou Claudio Botelho, que também assinou a direção musical e a versão brasileira.
O desdobramento de ‘8 ½’ em musical foi, portanto, natural. Autores de ‘Nine’, Maury Yeston (compositor e letrista) e Arthur Kopit (autor do texto) começaram a trabalhar na empreitada nos anos 70. Quando estreou na Broadway decadente do início dos anos 1980, se transformou em um raro sucesso do mítico local. Na época, a Times Square estava tomada por casas de prostituição, tráfico de entorpecentes e violência.
‘’Nine’ foi uma grande ruptura para a Broadway, apresentando um espetáculo cerebral, com referências bem diferentes de tudo o que havia sido feito até então. Foi uma reinvenção’, analisou Charles. O sucesso foi imediato e rendeu 12 indicações – e cinco prêmios – ao Tony e oito prêmios Drama Desk Award. Em 2003, um ‘revival’ trouxe Antonio Banderas como Guido e resultou em mais oito indicações ao Tony e o prêmio de Melhor Revival de Musical. Banderas recebeu ainda o Drama Desk e o Theatre World Award pelo trabalho.
Em 2009, a adaptação cinematográfica de Rob Marshall (‘Chicago’, ‘Annie’) introduziu uma série de inovações ao musical original, principalmente no roteiro e na trilha sonora, com a inserção de novas canções. O elenco, que reuniu astros como Daniel Day-Lewis, Nicole Kidman, Sophia Loren, Penelope Cruz, Marion Cotillard, Judi Dench e Kate Hudson, rodou algumas sequências na mítica Cinecittà, estúdio onde ‘8 ½’ e uma série de clássicos do cinema italiano foram filmados.
NINE – UM MUSICAL FELLINIANO
Um espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho
Elenco original (Estreia em São Paulo):
Nicola Lama – Guido Contini
Carol Castro – Luisa Contini – A Esposa
Totia Meireles – Lili La Fleur – A Produtora
Malu Rodrigues – Carla Albanese – A Amante
Karen Junqueira/Vanessa Costa – Claudia Nardi – A Musa
Leticia Birkheuer – Stephanie – A Jornalista
Beatriz Segall/Sonia Clara – Mãe de Guido
Myra Ruiz – Sarraghina – A Prostituta
Renata Vilela – Nossa Senhora do Spa
Camilla Marotti – Veronica
Lais Lenci – Francesca
Lola Fanucchi – Rossella
Isabella Moreira – Giulietta
Priscila Esteves – Sofia
Gabriel Ferrarini – Guidinho
Nicolas Cruz – Guidinho
Ficha Técnica:
Direção Musical e Versão Brasileira: Claudio Botelho
Cenografia: Rogério Falcão
Figurinos: Lino Villaventura
Coreografias: Alonso Barros e Charles Möeller
Design de Som: Ademir Moraes Jr.
Design de Luz: Paulo Cesar Medeiros
Direção Musical e Regência: Paulo Nogueira
Visagismo: Beto Carramanhos
Coordenação Artística: Tina Salles
Produção Executiva: Edson Lopes
Uma Produção: Möeller & Botelho e Conteúdo Teatral
Estreia: 23 de maio de 2015 – Teatro Porto Seguro (SP).
Elenco Temporada Rio de Janeiro:
Nicola Lama – Guido Contini
Carol Castro – Luisa Contini – A Esposa
Totia Meireles – Lili La Fleur – A Produtora
Malu Rodrigues – Carla Albanese – A Amante
Karen Junqueira – Claudia Nardi – A Musa
Leticia Birkheuer – Stephanie – A Jornalista
Sonia Clara – Mãe de Guido
Myra Ruiz – Sarraghina – A Prostituta
Ágata Matos – Nossa Senhora do Spa
Camilla Marotti – Veronica
Lais Lenci – Francesca
Lola Fanucchi – Rossella
Priscila Esteves – Sofia
Tiê Kuhl – Guidinho
Luiz Felipe Mello – Guidinho
Estreia RJ: 08 de outubro de 2015 – Teatro Clara Nunes (RJ).
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Fotos: Leo Aversa