Nicette Bruno em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”: “O trabalho me ajuda a viver de uma forma equilibrada”

Em entrevista para Dirceu Alves Jr, do Blog Na Plateia, da Veja São Paulo, atriz conta como tem se preparado pra o espetáculo com Möeller & Botelho

Em entrevista para Dirceu Alves Jr, do Blog Na Plateia, da Veja São Paulo, atriz conta como tem se preparado pra o espetáculo com Möeller & Botelho

AosUm desafio sob medida para duas grandes damas – e tem se falado muito sobre isso. Eva Wilma e Nicette Bruno estrelam “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, primeira montagem mundial da peça escrita por Henry Farel, o mesmo autor do romance que deu origem ao filme lançado em 1962. Sob a direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, o drama estreia no dia 19 no Teatro Porto Seguro.

Eva e Nicette representam as irmãs Hudson, vividas por Bette Davis e Joan Crawford nas telas. Jane Hudson (Eva) foi uma estrela mirim do teatro e, logo, conheceu a decadência, enquanto Blanche (Nicette) se transformou em uma diva do cinema hollywoodiano. Um acidente encerrou definitivamente a carreira de ambas, e as irmãs amargam seus dias confinadas em uma mansão, afogadas em mágoas e ressentimentos. E quem fala um pouco mais sobre o espetáculo é Nicette Bruno.

Protagonizar um espetáculo desse porte na maturidade é uma chance rara, não?

O meu pensamento é exatamente o inverso. Quanto mais idade e experiência, ganhamos novas possibilidades de aprendizado. Então, eu não acredito que bons papéis desaparecem com a idade. Quando os meninos (Charles Möeller e Claudio Botelho) me ligaram falando de um convite, eu pensei que era para um jantar (risos). Logo, eles me falaram do filme, que tinha visto há muitos anos. Eu me senti desafiada porque de imediato me lembrei, claro, dos grandes desempenhos de Bette Davis e Joan Crawford. Quando li, fiquei muito entusiasmada com a adaptação porque pega um caminho tragicômico bastante atraente. Tenho compromissos na Rede Globo só em fevereiro. Nem sei ainda do que se trata, mas estou escalada para um trabalho. Então, nesse momento, estou disponível para encarar esse texto. E é curioso, não? O livro virou filme e, agora. peça de teatro.

 “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”: Eva Wilma e Nicette Bruno na reta final dos ensaios (Fotos: Daryan Dornelles)

É seu primeiro encontro no palco com Eva Wilma, certo?

Vivinha (Eva Wilma) e eu participamos de um espetáculo dirigido por Ruggero Jacobbi nos anos 50 que não me recordo exatamente o que era. Não foi uma temporada, mas uma série de apresentações no Teatro Municipal. Depois, nós nos encontramos algumas vezes na televisão, fizemos “O Meu Pé de Laranja Lima” na Tupi. É tanta coisa em tanto tempo….

O filme homônimo, tão marcante, não pode prejudicar a composição de vocês no teatro?

De imediato, nós não revimos o filme justamente para não sofrer influência. A construção das duas atrizes é tão perfeita que poderia acabar nos induzindo a um ou outro caminho. Só um mês depois dos trabalhos iniciados é que, cada uma na sua casa, assistiu ao longa e comentamos na sequência. A minha personagem é mais racional, mais introvertida. A loucura está mais concentrada nas mãos da Vivinha.

Aos 83 anos, a memória se torna um problema para decorar longos textos?

Felizmente, sempre tive ótima memória. Claro que não sou a mesma de quando tinha 20 e poucos anos. Não é tão fácil, mas a gente toca em frente. Decorar é consequência do entendimento Se, em algum momento, esquecemos uma ou outra palavra, claro que pode podemos recorrer a um leve improviso porque temos a compreensão. Não podemos é encher de cacos, desrespeitar o original do autor e as intenções do diretor. Nesse espetáculo, cada uma de nós tem uma assistente que nos ajuda a trabalhar os diálogos o tempo inteiro. A minha personagem é introspectiva, se expressa mais nos gestos, nos olhares, então eu tenho menos falas. A Vivinha tem textos longuíssimos. Mas quando estamos no palco, fica mais fácil, porque ali estão os acessórios, os objetos do cenário e tem o jogo com os colegas, não é?

Nesse trabalho, você encontra novas parcerias e se descola uma pouco da imagem de seu marido, Paulo Goulart (1933-2014)?

Eu não consigo me descolar nunca, nem vou conseguir, tanto que cada vez que converso com alguém o Paulo é um assunto. É maravilhoso ter a chance de concentrar a minha energia nos meus personagens. Meu espetáculo anterior, “Perdas e Ganhos”, dirigido por nossa filha Beth, foi construído em homenagem a ele. Sua presença era muito forte em cada cena. Agora, eu estou envolvida com outros colegas, com uma história distante do meu universo. O trabalho me ajuda a viver de uma forma equilibrada. Eu sei que onde quer que o Paulo esteja, está me vendo, muito feliz pela forma como toco a minha vida.