Milton Nascimento e o teatro. Compositor celebra 70 anos com a vontade de fazer ainda mais pela arte.
Dizem que depois de certa idade o homem deve pôr o pé no freio e desacelerar o ritmo diário para viver mais feliz e tranquilo. A máxima pode parecer perfeita para muitos, não para Milton Nascimento. O compositor completa 70 anos de vida nesta sexta, dia 26, com força e vigor para fazer ainda mais. A paixão pela estrada o mantém disposto a percorrer o país e também o exterior para disseminar seu maior dom: a música. Feliz com a montagem de “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”, uma homenagem de Charles Möeller e Claudio Botelho à obra do mineiro, o compositor fala sobre a emoção de ver sua arte ser retratada nos palcos e se coloca à disposição para convites no cinema. E assim, “preso a canções e entregue a paixões”, como na canção, o mestre caminha em direção ao futuro, com sorriso de menino e um coração de jovem estudante. Confira abaixo uma entrevista exclusiva com o compositor de “Caçador de Mim”, “Coração de Estudante”, entre outros sucessos.
Como surgiu a ideia do espetáculo “Milton Nascimento – Nada Será como Antes”?
A notícia veio através da MPB Produções, a empresa que gerencia minha carreira junto com a Nascimento Música. Fiquei sabendo mais diretamente por João Mário Linhares, que foi quem fez a ponte entre Charles Möeller, Claudio Botelho e eu. O processo foi muito simples. Eles foram até minha casa e perguntaram: “Milton, você quer trabalhar conosco num espetáculo, ou quer receber um de presente?”. Como eu já sabia que eles faziam coisas incríveis, nem pensei duas vezes: “Quero ganhar um espetáculo!”.
O que sentiu ao ver o espetáculo pronto?
Quando fomos chamados para assistir ao ensaio que aconteceu pouco antes da estreia, fiquei extremamente impressionado. Eles quase me mataram! O elenco, o enredo, a direção, tudo é demais! Alguém me disse para tomar um calmante antes, eu não acreditei e quase me dei mal (risos). Não teve uma pessoa neste dia que não chorou.
Como foi a escolha do repertório? Participou dela?
Eu deixei tudo na mão do Charles e do Botelho e eles arrebentaram.
O que sentiu e o que achou do resultado final?
Infelizmente eu não estava na estreia por causa dos shows que eu fazia na Dinamarca. Foi uma pena, queria muito ter ido. Mas a primeira vez que foi muito especial, pois a produção do espetáculo fez uma sessão fechada para quase todos os meus amigos. Era uma surpresa e eu só fiquei sabendo na porta do teatro. Foi uma das melhores noites da minha vida.
É verdade que já era fã da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho? Quais musicais assistiu? .
Nossa, já perdi as contas, eles já fizeram mais de trinta musicais. Eu sou tão fã que posso te dizer com toda verdade que só o musical sobre os Beatles eu fui umas sete vezes. Eles são autoridade máxima nesse tipo de arte. Por causa deles, muita coisa mudou quando se fala em musicais no Brasil.
Além de musicais, qual sua ligação com o teatro?
Eu já fiz dezenas de trilhas para teatro, mas, com certeza, as mais famosas são “Maria Maria” e “O Último Trem”, ambas pelo Grupo Corpo. As duas foram um sucesso enorme, rodaram o mundo inteiro. Até hoje quando vou para o exterior, Europa principalmente, as pessoas falam desses espetáculos.
Você atuou recentemente na peça “Ser Minas Tão Gerais”. Como foi a experiência? .
Na verdade, nós gravamos este DVD com o Grupo Ponto de Partida e os Meninos de Araçuaí em 2006, no Theatro Central de Juiz de Fora (MG). No mês passado, no Teatro Alfa, em São Paulo, nós fizemos dois espetáculos para celebrar a segunda tiragem deste DVD, que é vendido somente pelo site do grupo que, além da atuação artística, possui também uma militância social poucas vezes vista no Brasil.
Esta não foi a primeira vez que atuou. Gostaria de atuar mais?
Eu já fui ator em filmes de Ruy Guerra, Carlos Alberto Prates Correia, Werner Herzog, Paulo Cezar Saraceni. Eu gostaria de atuar muito mais, principalmente em cinema, que eu amo. Inclusive, quero usar este espaço para avisar aos diretores que estou completamente à disposição para qualquer convite, eu amo mesmo esse negócio de atuar. .
Neste ano de tantas comemorações e realizações, ainda sobra algum pedido para fazer na hora de assoprar as velinhas? O que ainda gostaria de realizar?
Ainda quero fazer mais amigos do que eu já tenho e continuar fazendo shows, muitos, mais ainda do que já faço. Duas coisas que eu sou apaixonado: pessoas e estrada.
Fonte: Globo Teatro – 26/10/12