Globo Barra: Renato Aragão vai reeditar, no palco da Cidade das Artes, parceria feita no cinema com Dedé Santana

O humorista fala da expectativa de pisar num palco de teatro pela primeira vez na vida

O humorista fala da expectativa de pisar num palco de teatro pela primeira vez na vida

Podem ser quase 50 anos de carreira na televisão — 40 deles dando vida ao popular personagem Didi Mocó — e cerca de 50 filmes estrelados, mas o frio na barriga diante de uma estreia continua o mesmo, garante Renato Aragão. Da próxima sexta-feira até 30 de novembro, o humorista voltará a ser tomado pela adrenalina, ao subir ao palco da Grande Sala da Cidade das Artes para protagonizar, ao lado de Dedé Santana, “Os Saltimbancos Trapalhões”, novo musical da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho.

— Faço o “Criança Esperança” há 30 anos e sempre é como se eu estivesse fazendo pela primeira vez. O nervosismo não passa nem diminui com o tempo — diz Renato, referindo-se à sua experiência de encarar grandes plateias.

Renato conversou com o GLOBO-Barra, com exclusividade, na última terça-feira, durante um dos ensaios da peça. Que terá um gostinho especial para ele: marcará sua estreia no palco.

— Eu não fiz teatro antes porque não dava tempo. Tinha o programa semanal na Rede Globo (“Aventuras do Didi”, que deixou de ser exibido no ano passado), e não dá para se dedicar a dois senhores: ou você faz só televisão ou faz só teatro — acredita.

Se o humorista não disfarça a ansiedade, tampouco esconde o encantamento com o novo universo.

— É gostoso porque você sente a plateia de perto. Em shows, ficamos num palco enorme, mas o público está distante. No teatro, a qualquer reação, gesto ou olhar, a plateia está com a gente. É muito fascinante.

Assinado por Charles Möeller, o texto da montagem foi inspirado no conto “Os músicos de Bremen”, que também deu origem à peça “Os Saltimbancos”, dos italianos Sergio Bardotti e Luis Enríquez, e ao filme “Os Saltimbancos Trapalhões”, de 1981, protagonizado por Didi e Dedé ao lado dos já falecidos Trapalhões Mussum e Zaracarias. Disciplinado, ao contrário de seu famoso personagem, Renato afirma seguir — quase — à risca o texto e as orientações da direção, a cargo de Möeller.

— Às vezes faço uma brincadeirinha extra, mas, no geral, procuro seguir tudo o que foi escrito, tudo o que Charles diz, e o que foi criado para a coreografia.

Recuperado de um infarto sofrido em março deste ano e prestes a completar 80 anos, ele conta que se sente preparado para encarar a jornada no palco. E para o que mais vier:

— Eu me preparo para a vida. Sempre corro, faço ginástica e procuro manter uma alimentação de qualidade. Todos os dias eu faço esteira; e, no verão, hidroginástica, pelo menos três vezes por semana. Acho que tudo isso me ajuda a estar preparado para as cerca de seis horas que vou passar no teatro nos dias de espetáculo.

Trabalhar na Cidade das Artes, no bairro onde mora, é um atrativo a mais para Renato, que se revela apaixonado pela Barra da Tijuca.

— Eu acho que aqui já tem quase tudo. Claro que a gente sempre deseja que melhore, mas, se você quer um restaurante maravilhoso, tem aqui. Se quer os melhores shoppings, estão aqui. É difícil eu atravessar algum túnel. Moro e faço tudo por aqui. Raramente vou ao Centro da cidade — conta ele, defendendo o bairro das críticas sobre o trânsito caótico. — A verdade é que está tudo crescendo, e as estradas estão ficando poucas, em todo o país. A gente diz que no Rio de Janeiro está difícil, mas nas capitais do Norte, do Nordeste, também está assim. É muito carro para pouca estrada. Quando vier o metrô, vai melhorar mais. Eu adoro isso aqui!

O humorista também diz estar contente com a expansão do cenário cultural do bairro:

— Agora, as pessoas estão atravessando o túnel. Antigamente, os teatros eram exclusivos da Zona Sul; ficavam do Leblon para lá. Hoje, temos esse teatro maravilhoso aqui na Cidade das Artes, e tem o Teatro Bradesco, no VillageMall, além dos outros menores, que já existiam. A população da região está aumentando e ficando por aqui, criando uma rotina de trabalho e de diversão mais perto de casa.

Além da peça, Renato tem outros projetos profissionais. Entre eles, um telefilme realizado pela Rede Globo, intitulado “Didi e o segredo dos anjos” e ainda sem data para ser exibido.


PARCERIA QUE ENCANTA GERAÇÕES


Dedé Santana e Renato Aragão posam juntos durante um dos ensaios do espetáculo “Os Saltimbancos Trapalhões” – Bárbara Lopes / Agência O Globo

 

Companheiros na vida profissional, Renato Aragão e Dedé Santana vão subir juntos ao palco da Cidade das Artes, ao lado de mais 31 atores e orquestra. Em “Os Saltimbancos Trapalhões”, o foco está na história de Didi e Dedé, dois funcionários humildes que se tornam a grande atração de um circo devido à capacidade de fazer o público rir. A partir daí, eles começam a ser perseguidos pelo dono da lona, e a confusão está armada.

— Achei essa ideia de trazer os Saltimbancos para o teatro sensacional. Fiquei muito feliz com o fato de o Renato ter topado. Acho que eu não saberia fazer isso sozinho. Eu ficaria muito em dúvida sobre aceitar. Com Dedé e Didi juntos, é mais fácil. O Roberto Guilherme, que ficou conhecido pelo personagem Sargento Pincel, também está aí com a gente, interpretando o dono do circo. Ter esses amigos por perto dá mais segurança — conta Dedé.

Renato diz que, assim como Dedé, levou em consideração o fato de ter em cena a companhia de antigos amigos de trabalho e da filha Lívian para aceitar o desafio. Ele ressalta as diferenças entre o teatro e a TV, seu habitat natural, que o levou naturalmente ao cinema:

— No teatro, temos que estar atentos o tempo todo ao que estamos fazendo, porque não temos a câmera para mostrar os detalhes. O público vê tudo o que se passa.

Para Dedé, a emoção da estreia na próxima sexta-feira virá junto com lembranças do início de sua carreira, já que, diferentemente de Renato, ele começou no teatro, mais precisamente, o de revista.

— Trabalhei alguns anos com o Walter Pinto no Teatro Recreio, na Praça Tiradentes. Estou muito contente por voltar a ter esse contato tão direto com o público — diz.

A reunião dos humoristas tem sido motivo de alegria para os fãs dos Trapalhões, que não os viam juntos desde o início do ano passado, quando “Aventuras do Didi” saiu do ar.

— Sabemos que nosso público envelheceu junto com a gente, mas acho que a nova geração, influenciada pelos pais, aprendeu a gostar dos Trapalhões. Tenho recebido mensagens de pessoas dizendo que compraram o filme e mostraram aos filhos. Uma delas me disse que já comprou passagens para trazer os seus ao Rio e nos ver no teatro. Eu me emociono com essas coisas — diz Dedé.

 

Fonte: Globo Barra (O Globo): 28/09/14.

por Maísa Capobiango