Folha de São Paulo: Musical ‘Nine’ tem rara reunião de talentos femininos no Brasil

Leia a crítica de Nelson de Sá para o novo espetáculo de Möeller & Botelho

Leia a crítica de Nelson de Sá para o novo espetáculo de Möeller & Botelho


Por Nelson de Sá – Folha de São Paulo – 25/05/2015 
 

É um musical de mão-cheia, em especial para quem já conhece e gosta do gênero. A inspiração é 8 1/2, o filme de Fellini, mas poderia ser também e alguns acreditam ter sido Company, clássico moderno criado por Stephen Sondheim e já montado no Brasil pela mesma dupla Möeller & Botelho.

Com composição complexa e de estilos musicais diversos, sempre envolvente, criada por um Maury Yeston que pouco deve a Sondheim, corre também em torno de um indivíduo. Neste caso, o cineasta Guido, alter ego do cineasta italiano, e de muito artista contemporâneo.

 

A encenação pode não ser tão extravagante quanto a original de 1982, como festejada então pelo crítico Frank Rich, mas acumula talentos e facetas femininas, de personagens e atrizes, como é raro ver em musical no Brasil.

 

Também traz bons atores, dois apenas, nos papéis de Guido adulto e criança, mas o que mais interessa, como na atenção do personagem principal, são as mulheres.

 

O número central, aquele que fez o musical entrar para a história do teatro americano e tornou Ti Voglio Bene/ Be Italian uma canção standard, popular além de seu tempo e do teatro, é interpretado por Myra Ruiz de maneira tão enternecedora que, se fosse preciso uma única cena para justificar a ida ao teatro, seria essa.

 

DESCOBERTA

 

A jovem atriz, que dá seus primeiros passos fora da linha de coro, já havia chamado a atenção pela voz em Nas Alturas, mas agora se integrou perfeitamente à direção de Charles Möeller e em especial à coreografia de Alonso Barros, revelando-se intérprete plena.

 

No número, Guido, aos 9, se transforma ao conhecer a prostituta Saraghina e receber uma aula sobre as mulheres, o que elas querem. Guido jamais seria o mesmo, no elo com a mãe, com a mulher, com a amante, com a atriz que o inspira, com sua produtora.

 

Esta, Lili La Fleur, é interpretada por Totia Meirelles, que já havia feito de maneira exuberante tanto Joanne em Company (2000) como Rose em Gypsy (2010), personagens de perfil semelhante: forte, egoísta, apaixonada.

 

Em Nine, mais que produtora de cinema, ela é uma ex-estrela do Folies Bergère, cabaré de Paris que o espetáculo homenageia com um número comandado por ela com direito a plumas e paetês.

 

Também veterana em musicais, embora muito jovem, Malu Rodrigues interpreta a amante do cineasta, Carla, e não tem a menor restrição em expor a superficialidade e a ingenuidade da personagem, um dos mais engraçados em cena. É também uma das vozes mais potentes no palco, aquela que arrebata o público pela garganta.

 

Dentre as muitas atrizes qualificadas no palco, destaque-se ainda que Carol Castro, mais conhecida por televisão, faz a esposa não só com elegância e sensualidade, mas com grande envolvimento emocional, passando no final da extrema tristeza à alegria, convincente em ambas.

 

Mas a encenação poderia ter contornado ou procurado sustentá-la melhor, como faz com outras, nas passagens de maior exigência vocal, em que canta com dificuldade, trêmula, levando à angústia da espera de um deslize de afinação.

 

Por fim, o ator italiano Nicola Lama, que faz Guido, abraça as cenas cômicas de maior ridículo sem constrangimento e empresta grande autenticidade ao personagem e à adaptação brasileira. É eficiente também quando a cena exige drama e, conhecido de musicais recentes como Se Eu Fosse Você, canta cada vez melhor.

 

 

NINE – UM MUSICAL FELLINIANO

QUANDO de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h

ONDE Teatro Porto Seguro, alameda Barão de Piracicaba, 740, tel. (11) 3223-2090

QUANTO de R$ 50 a R$ 200

 

AVALIAÇÃO muito bom

É um musical de mão-cheia, em especial para quem já conhece e gosta do gênero. A inspiração é 8 1/2, o filme de Fellini, mas poderia ser também e alguns acreditam ter sido Company, clássico moderno criado por Stephen Sondheim e já montado no Brasil pela mesma dupla Möeller & Botelho.


Com composição complexa e de estilos musicais diversos, sempre envolvente, criada por um Maury Yeston que pouco deve a Sondheim, corre também em torno de um indivíduo. Neste caso, o cineasta Guido, alter ego do cineasta italiano, e de muito artista contemporâneo.


A encenação pode não ser tão extravagante quanto a original de 1982, como festejada então pelo crítico Frank Rich, mas acumula talentos e facetas femininas, de personagens e atrizes, como é raro ver em musical no Brasil.


Também traz bons atores, dois apenas, nos papéis de Guido adulto e criança, mas o que mais interessa, como na atenção do personagem principal, são as mulheres.


O número central, aquele que fez o musical entrar para a história do teatro americano e tornou Ti Voglio Bene/ Be Italian uma canção standard, popular além de seu tempo e do teatro, é interpretado por Myra Ruiz de maneira tão enternecedora que, se fosse preciso uma única cena para justificar a ida ao teatro, seria essa.


DESCOBERTA


A jovem atriz, que dá seus primeiros passos fora da linha de coro, já havia chamado a atenção pela voz em Nas Alturas, mas agora se integrou perfeitamente à direção de Charles Möeller e em especial à coreografia de Alonso Barros, revelando-se intérprete plena.


No número, Guido, aos 9, se transforma ao conhecer a prostituta Saraghina e receber uma aula sobre as mulheres, o que elas querem. Guido jamais seria o mesmo, no elo com a mãe, com a mulher, com a amante, com a atriz que o inspira, com sua produtora.


Esta, Lili La Fleur, é interpretada por Totia Meirelles, que já havia feito de maneira exuberante tanto Joanne em Company (2000) como Rose em Gypsy (2010), personagens de perfil semelhante: forte, egoísta, apaixonada.


Em Nine, mais que produtora de cinema, ela é uma ex-estrela do Folies Bergère, cabaré de Paris que o espetáculo homenageia com um número comandado por ela com direito a plumas e paetês.


Também veterana em musicais, embora muito jovem, Malu Rodrigues interpreta a amante do cineasta, Carla, e não tem a menor restrição em expor a superficialidade e a ingenuidade da personagem, um dos mais engraçados em cena. É também uma das vozes mais potentes no palco, aquela que arrebata o público pela garganta.


Dentre as muitas atrizes qualificadas no palco, destaque-se ainda que Carol Castro, mais conhecida por televisão, faz a esposa não só com elegância e sensualidade, mas com grande envolvimento emocional, passando no final da extrema tristeza à alegria, convincente em ambas.




Mas a encenação poderia ter contornado ou procurado sustentá-la melhor, como faz com outras, nas passagens de maior exigência vocal, em que canta com dificuldade, trêmula, levando à angústia da espera de um deslize de afinação.


Por fim, o ator italiano Nicola Lama, que faz Guido, abraça as cenas cômicas de maior ridículo sem constrangimento e empresta grande autenticidade ao personagem e à adaptação brasileira. É eficiente também quando a cena exige drama e, conhecido de musicais recentes como Se Eu Fosse Você, canta cada vez melhor.



NINE – UM MUSICAL FELLINIANO

QUANDO de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h

ONDE Teatro Porto Seguro, alameda Barão de Piracicaba, 740, tel. (11) 3223-2090

QUANTO de R$ 50 a R$ 200

AVALIAÇÃO muito bom