Críticas de ‘O Que Terá Acontecido a Baby Jane?’

Confira aqui as principais críticas para O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, com direção de Möeller & Botelho

Confira aqui as principais críticas para O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, com direção de Möeller & Botelho
A Beleza Arrancada da Maldade Nostálgica
22/08/2016
[Paulo Neto | Drops Mag]

Claudio Botelho e Charles Möeller são os reis dos musicais no eixo Rio-São Paulo.  Realizaram a grande maioria das melhores montagens dos últimos quinze anos. Algumas vezes (e sempre acertando em todas elas) incursionaram pela seara da peça dramática (usualmente com doses de comédia) a exemplo das ótimas “Gloriosa” (com Marília Pêra) e “Judy Garland – O Fim do Arco-íris” (com Cláudia Netto). Agora resolveram trazer para o palco o conto macabro de Henry Farrell que se transformou no antológico filme de 1962 com Bette Davis e Joan Crawford. “O Que Terá Acontecido A Baby Jane?” é mais uma bem sucedida montagem destes grandes diretores que se esmeram em esmiuçar a alma feminina e suas nebulosidades e belezas.

Duas irmãs já idosas, niilistas, amarguradas e  mergulhadas na presunção e no passado glamouroso de ambas, tendo que conviver numa casa sombria repleta de recalques, mágoas e intrigas.

Eva Wilma encarna Jane,  uma mulher embebida na mais terrível inveja da própria irmã. A grande atriz consegue incorporar novas facetas à personagem (interpretada com tanta maestria por Bette Davis). Wilma adiciona oportuna comicidade, malandragem e hilariante maldade na medida certa de uma atriz que sabe o que faz no palco. Nicette Bruno tem papel mais contido, na pele de Blanche, a mulher presa a uma cadeira-de-rodas às voltas com a dominação fraterna. Mesmo sem poder movimentar-se pelo palco, Nicette consegue transmutar toda a exasperação de sua Blanche através dos olhares e um registro carismático de atuação que a atriz domina muito bem. Ao final, sua personagem tem a chance de brilhar ainda mais numa cena-reveladora atordoante.

Sophia Valverde é uma surpresa empolgante na pele de Jane quando criança. Licurgo Espínola tem aquela voz poderosa compatível para uma montagem de época como esta. O poder das vozes é trabalhado de forma exemplar pelos diretores. Posso estar enganado, mas a potência de algumas vozes (principalmente a de Espínola) me remeteu positivamente às boas dublagens de filmes míticos em matinês de sessão da tarde. A poderosa Teca Pereira interpreta a empregada de pulso firme e cheia de insubmissão. Um trabalho digno de veterana, calçado no mesmo nível das duas protagonistas.

Juliana Rolim personifica Jane na fase intermediária e faz um trabalho notável também de equilíbrio vocal para ficar compatível com o registro de Eva Wilma.

A cenografia de Rogério Falcão cria uma ambientação nostálgica e amedrontante, alcançando um resultado de alto nível. Carol Lobato repete mais uma vez sua verve criativa ao entregar figurinos irrepreensíveis, fazendo o espectador viajar no tempo.

A direção de Charles Möeller e Claudio Botelho alcança momentos majestosos. A dupla sabe dosar muito bem todos os ingredientes necessários à qualidade de uma montagem como esta. Além de serem hábeis e ágeis na condução do elenco (arrancando atuações formidáveis) eles ainda trazem sua expertise dos grandes musicais, incorporando  fluidez e dinamismo na narrativa, através das inserções (flashbacks) do passado das personagens. Há cenas que remetem a “Gypsy” e às crianças-prodígio da era de ouro de Hollywood dominadas pela família mercenária.

“O Que Terá Acontecido A Baby Jane?” é uma montagem primorosa, recheada de detalhes e referências que só diretores sensíveis e antenados (e com a bagagem brilhante que carregam) como Möeller & Botelho saberiam esmiuçar. Um meticuloso acerto em todos os sentidos. Os diretores arrancam da maldade escura e da morbidez acachapante uma beleza nostálgica e amorosa que chegam a comover.

Eis aqui dois apaixonados pelos musicais e pelo palco que também sabem homenagear – e com extrema nobreza – o cinema.

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Eva e Nicette cativam público em O Que Terá Acontecido a Baby Jane
[Miguel Arcanjo Prado | UOL Entretenimento]
25/08/2016

Com 82 e 83 anos, respectivamente, Eva Wilma e Nicette Bruno já têm currículos que as colocam no lugar de não precisar provar a ninguém que são atrizes consagradas. Mesmo assim, escolhem estar na labuta diária do palco, na profissão que tanto amam. É cativante vê-las juntas em sintonia fina na primeira montagem mundial para o teatro de “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, em cartaz no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, sob direção de Claudio Botelho e Charles Möeller, tarimbada dupla dos musicais que se aventura pela primeira vez no fértil terreno do drama.

O espetáculo conta a famosa história das duas irmãs atrizes, já velhas e sem fama, trancafiadas em um casarão de Hollywood, onde Baby Jane (Eva Wilma) passa seus dias torturando psicologicamente a irmã paralítica, Blanche Hudson (Nicette Bruno).

Baby Jane foi uma estrela na infância, enquanto a irmã ficava nos bastidores junto com o pai empresário (uma espécie de precursor do pai de Michael Jackson). Na juventude, a situação foi invertida, com Blanche transformando-se em uma diva do cinema, enquanto a Baby Jane só restavam pequenas pontas. Após o mal explicado acidente que deixou Blanche na cadeira de rodas no auge da carreira, só resta às duas o convívio mútuo.

O grande mérito desta montagem, assim como dar vida novamente ao texto que tornou-se um clássico no cinema em 1962 no filme homônimo estrelado pelas grandes divas rivais Bette Davis e Joan Crawford, é possibilitar que duas atrizes tão queridas e respeitadas pelo público, como Eva e Nicette, contracenem.

E elas demonstram vigor de duas garotas na encenação de ritmo ágil proposta pelos diretores. O espetáculo acerta ao colocar em cena, muitas vezes ao mesmo tempo, as três gerações de Baby Jane e Blanche, construindo uma requintada trama psicológica que vai se revelando aos poucos e dialoga no tempo.

Impressionantemente talentosa, a menina Sophia Valverde é a própria encarnação da Baby Jane criança, arrancando aplausos em cena aberta quando expõe o maquiavelismo da personagem no trato com a irmã Blanche, papel da doce Duda Matte.

Na juventude, os papéis passam a ser defendidos por Juliana Rolim e Rachel Rennhack, repetindo a construção já desenhada pelas crianças. O elenco ainda tem Licurgo Spinola, que demonstra versatilidade ao se dividir nos três papéis masculinos da vida das irmãs Hudson: o pai, o cineasta e o pianista com quem Baby Jane idosa pretende retomar sua carreira em Las Vegas. Ainda há Nedira Campos, no papel da vizinha enxerida, e a sempre carismática e segura Teca Pereira, como a criada que ousa enfrentar a loucura de Baby Jane.

A equipe técnica também merece ser citada por, junta, criar o clima que a obra pede. E isso acontece no soturno cenário criado por Rogério Falcão, nos figurinos de época assinados por Carol Lobato, na iluminação de Paulo César Medeiros, que dialoga o tempo todo com os sentimentos em cena, no visagismo de Beto Carramanhos e no design de som de Ademir Moras Jr.

“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é um espetáculo imperdível, afinado e cativante da primeira à última (e impactante) cena. Com Eva e Nicette à frente de um aguerrido elenco, a peça é a prova de que o talento só melhora com o tempo.

“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” * * * * *
Avaliação: Ótimo

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O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
[Mônica Santos | Veja São Paulo]
25/08/2016

Mais de cinco décadas depois de estrear no cinema, o mítico thriller psicológico O que Terá Acontecido a Baby Jane? ganhou uma deliciosa versão para os palcos protagonizada por dois grandes nomes do teatro nacional. Eva Wilma e Nicette Bruno interpretam as irmãs Jane e Blanche Hudson, papéis que no filme de 1962 foram de Bette Davis e Joan Crawford, respectivamente.

Na trama cheia de suspense e boas doses de humor, duas ex-atrizes que conheceram o sucesso dividem uma vida decadente, marcada por mágoas e ressentimentos. Jane, que só desfrutou a fama na infância, cuida da irmã, Blanche, presa a uma cadeira de rodas desde que um misterioso acidente interrompeu sua carreira de estrela hollywoodiana. É de Blanche, aliás, o dinheiro que sustenta o casarão em que elas vivem confinadas. Disposta a recuperar a fama de outrora, Jane traça um plano de vingança contra a irmã.

É nesse embate entre as duas que surge espaço para que Eva e Nicette mostrem o talento construído ao longo de décadas na televisão, no cinema e, é claro, no teatro. Elas dominam os papéis com leveza, como se brincassem diante da plateia.

Diretores do espetáculo, Charles Möeller e Claudio Botelho escalaram também duas ótimas atrizes mirins, Sophia Valverde e Duda Matte, que fazem Jane e Blanche ainda crianças, além de Rachel Rennhack e Juliana Rolim, que as interpretam na juventude. Licurgo Spínola, Nedira Campos e Teca Pereira completam o elenco afiado. O show, contudo, são Eva e Nicette.

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Garotas Boazinhas Vão Para o Céu. As Más Vão Para Onde Quiserem. O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?
[Carmen Farão | Blog Carmen Farão Perplexa]
26/08/2016

Mais ou menos assim. Super isso. Para onde iria a enclausurada Baby Jane Hudson? A boazinha Blanche Hudson estaria no céu? Muito mais do que tudo junto, o psychothriller  “O Que Terá Acontecido a Baby Jane” estreou neste Agosto no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. Uma estréia esperada e incensada pelos amantes da boa arte, do bom cinema,  do bom teatro e das emblemáticas Eva Wilma e Nicette Bruno. Uma oportunidade única de assistir duas atrizes cujas histórias se misturam à construção do nosso modo de viver menos  Exatas e mais Humanas.

No Princípio, o Glamour

A história perturbadora de duas irmãs já na meia idade – estrelas de cinema da Hollywood nos anos dourados – ganhou sua versão cinematográfica definitiva em 1962, com as inimigas íntimas Joan Crawford e Bette Davis sob a batuta de Robert Aldrich.  Bette como Baby Jane Hudson, Joan sua irmã Blanche Hudson.  Filme que arrebata corações e mentes de cinéfilos e perturba platéias de ocasião. “O Que Terá Acontecido a Baby Jane” é daqueles enredos que não nos abandonam. A maquiagem tatuada em Bette, os grandes olhos de Joan implorando ajuda pelas grades da janela…  um sem-fim de situações num filme de conteúdo intenso.  Jamais esqueci. Jamais esquecerei. Assisti dezenas de vezes ao ponto de saber algumas frases decoradas. Pesquisei bastidores, making of’s, nas revistas que comprava na loja disneylândia para cinéfilos no Baixo Augusta.

A Dicotomia do Conflito.

Baby Jane é uma garotinha-cachinhos-de-canecalon-dourados (licença imagética, Baby não usava peruca) de absurdo sucesso nos anos 1910. Uma bonequinha viva. O papai querido parecia ter planos estelares para as irmãs Hudson desde o ventre da mãe. Assim, Baby Janes foi mimada, mal-acostumada e  tratada como  produto .  A garotinha do papai que  via cifrões na bonequinha viva. Os cachinhos dos ovos de ouro.  A boazinha irmã Blanche sempre esquecida e humilhada por uma Baby Jane já perturbada, arrebenta de sucesso ao adolescer ao mesmo tempo que Baby vê seus cachinhos dourados sumirem ano a ano, enquanto Blanche Hudson crescia e tomava forma,  estrela de filmes românticos de absoluto sucesso.  Seriam as irmãs Hudson partes de um único ser? Apêndices de uma existência onde cada uma simbolizaria as fases da vida? A infante Baby Jane e a jovem desejada Blanche? De qualquer maneira, a história das irmãs é interrompida por um grave acidente, deixando Blanche numa cadeira de rodas e aos cuidados de uma Baby Jane amargurada, traquinas, má. Infeliz. Coloque as duas numa casa. Paradas num tempo ensimesmado. Imagine o que pode acontecer.

Eva Wilma e Nicette Bruno

Eva Baby e Nicette Blanche merecem nosso respeito eterno. Atuações admiráveis que buscam superar obstáculos da vida real com uma determinação hipnotizante. Atrizes incomparáveis aplaudidas em cena aberta. Ninguém deveria perder a oportunidade de vê-las juntas no palco num espetáculo único. É comovente.

Uma aflição psicológica toma conta do Teatro Porto Seguro em São Paulo. A direção de Claudio Botelho e Charles Möeller  nos presenteia com um ambiente atordoante reforçado pela trilha à Bernard Hermann durante os diálogos.  São 3 fases das irmãs Hudson: infância, juventude e maturidade que o diretor deixa claro: jamais deixarão de ser presente para Blanche e Baby. Os fantasmas das irmãs habitam a mansão e a psiquè  labiríntica do que restou da família Hudson. Há uma quebra da quarta parede que talvez tenha como objetivo lembrar à platéia que ela está no teatro mesmo com o clima cinematográfico.  Quebra de atenção, da trilha, da iluminação escura e pontuada. O clima obscuro da mente Hudson é recuperado imediatamente. Impossível desgrudar os olhos do palco. Lá estão Eva e Nicette.

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