Crítica: As Percussões, a Delicadeza e o Impacto de Nada Será Como Antes

Leia a crítica do Site Drops Magazine para o 'Milton Nascimento, Nada Será Como Antes - O Musical', de Charles Möeller & Claudio Botelho 

Leia a crítica do Site Drops Magazine para o ‘Milton Nascimento, Nada Será Como Antes – O Musical’, de Charles Möeller & Claudio Botelho:

“Milton Nascimento – Nada Será Como Antes“, espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho, traz todos os clássicos em roupagem nova, para todas as idades, credos, gostos e raças. A leitura que os diretores fazem da obra do compositor e cantor (cito compositor à frente porque considero que este seja seu real talento) é de altíssima voltagem emocional e poética. 50 canções costuradas dentro das quatro estações do ano.  Dez atores/cantores, cujos talentos vocais serão lembrados para sempre. Poucas vezes vi uma comunhão de elenco em cena tão emocionante. Eles se entreolham, se admiram, se tocam. A cena dos irmãos Pedro Sol e Estrela Blanco acariciando o cabelo um do outro, enquanto cantam “Amor de Índio”,  é de chorar de tão delicada.

É também surpreendente ver este elenco alternando-se em vozes e instrumentos. Há uma flauta mágica. Percussões poderosas. Cordas por todo lado.

Um dos pontos altos é Marya Bravo (que recentemente interpretou Fruma Sarah em “Um Violinista no Telhado”) cantando “Maria, Maria”. Sem dúvida um momento antológico do teatro musical brasileiro.

Claudio Lins enternece almas em “Travessia” e “Caçador de Mim”. Bonita a evolução dramática e artística de Pedro Sol. A direção musical de Claudio Botelho é digna de prêmios e mais prêmios.

A cenografia de Rogério Falcão reproduz o coração mineiro que palpita na maioria das canções de Milton. Bancos transformam-se em percussões. Globos recobertos de rendas descem do teto. Origamis-pássaros de papel reciclado sobrevoam o elenco. Os figurinos de Charles Möeller são preciosos, de um requinte que enche os olhos: rendas, bordados, cores homogêneas, a terra e o sol das canções de Milton impressas nas roupas dos atores/cantores.

“Nada Será Como Antes” é um espetáculo solar e penetrante. Consegue iluminar os corações dos espectadores de forma grandiosa.

Os espetáculos de Moeller e Botelho têm uma mágica, uma atmosfera, uma qualidade artística, e um ritmo alucinante que os outros não costumam ter.  Este musical está impregnado desta magia da dupla.

Delicado (como a flauta), impactante (como as percussões), “Nada Será Como Antes” é maduro, impressionante e universal. Pode ser encenado em qualquer lugar do mundo. Pode encantar qualquer ser humano, mesmo que ele não entenda uma palavra sequer de português. Mesmo que ele nunca tenha ouvido falar em Milton Nascimento.

Milton “prepara canções que fazem acordar os homens”. Charles e Claudio preparam musicais que arrebatam os homens

Por Paulo Neto – Site Drops Magazine