Às vésperas de sua chegada ao Brasil, para a estreia da versão nacional de um de seus maiores sucessos, o musical “O Rei Leão”, o letrista inglês Tim Rice deu entrevista a Ubiratan Brasil, publicada em O Estado de São Paulo deste sábado, 16/03. A matéria contou com uma análise feita por Claudio Botelho, especialmente convidado pelo colunista.
Análise Claudio Botelho
“Tive a oportunidade de escrever versões em português para as belas letras de Sir Tim Rice em Evita e A Bela e a Fera. Evita foi um trabalho complicado. Rice é, mais que apenas um letrista, um dedicado dramaturgo. Suas letras podem ser de extrema ternura e singeleza, como é o caso de You Must Love Me, terem bastante humor e forte ironia como em Buenos Aires, e ao mesmo tempo o letrista dá lugar ao homem que pensa a cena em diversos recitativos funcionais, que servem à ação da peça, mas não são exatamente ‘letras de música’. No original são estruturais e convincentes (embora muito explicativas), mas apresentam um desafio ao tradutor por requererem exatidão na nova língua, ao preço de se desvirtuar o foco da história se não forem encontradas soluções completamente fiéis ao que estava em inglês. Rice é isso: um homem de teatro a serviço do espetáculo.
Já em A Bela e a Fera, sem o gesso da chamada “ópera-rock” de Andrew Lloyd Weber, Rice tem a chance de brilhar naquilo que faz com maestria: a canção, pura e simples, sem recitativos e preocupações com dramaturgia. Há muito humor e verve nas novas canções que ele criou para a versão de palco do desenho da Disney, continuando o trabalho feito por Allan Menken (música) e Howard Ashman (letrista do filme, falecido quando a produção de teatro foi criada). Como Menken é muito mais leve e humorado que Weber, Rice vai na onda e deita e rola com as possibilidades da história e dos personagens lúdicos.
Não há dúvida de que Tim Rice é filho do musical inglês, sem a genética de um Noel Coward ou um Lionel Bart, mas mais precisamente um representante da fase que começa nos anos 70/80 e que deu o tom do que reinava mesmo na Broadway até meados de 1990. É um teatro pensado para ser todo cantado, com muita repetição de temas musicais que grudam nos ouvidos da plateia, e exige do letrista muito mais trabalho para tornar novo e convincente o que já foi ouvido diversas vezes na peça.
No entanto, com a decadência deste formato (Sir Andrew não emplaca nenhum musical desde O Fantasma da Ópera), Rice conseguiu com outros parceiros a chance de se expressar em seu máximo potencial. É com Elton John que ele realmente cria obras-primas: as canções de O Rei Leão. São páginas de um lirismo encantador como Circle of Life, e números impagáveis de comédia como Hakuna Matatta. Uma dupla e tanto”.
Leia a entrevista de Ubiratan Brasil com Tim Rice no Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,tim-rice-superstar,1009301,0.htm