Leia abaixo a crítica de Barbara Heliodora, de O Globo, para “Como Vencer na Vida Sem Fazer Força” na íntegra. A crítica foi publicada na edição de hoje, 13/03, no jornal.
Espetáculo divertido, visualmente lindo e com atuações primorosas do elenco
Uma divertida crítica aos meios de “Como vencer na vida sem fazer força”, o musical em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, criado há meio século, continua sendo um delicioso retrato dos vícios e acasos que nutrem o carreirismo nas grandes empresas. Fingindo, mentindo, bajulando, e sempre com ar de pobre desamparado, J.P. Finch vai de lavador de janelas a presidente do conselho diretor, em uma das tramas mais bem armadas da história dos musicais. Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert transformaram em comédia o livro do publicitário Shepherd Mead orientando jovens americanos ambiciosos, na verdade uma sátira aos manuais de autoajuda que pipocavam na época nos Estados Unidos.
A montagem de Claudio Botelho e Charles Möeller está à altura do padrão de qualidade da dupla, e a tradução fluente permite que espetáculo tenha um ritmo exato. A cenografia de Rogério Falcão é brilhante, e junto com os ótimos figurinos de Marcelo Pies, compõe com total acerto do mundo da grande firma. A luz de Paulo Cesar Medeiros tem a precisão conhecida, e Marcelo Claret equilibra muito bem o som. A coreografia de Alonso Barros é excepcional, evocando o tipo de trabalho do momento em cada número, e Zilda Valentim conduz bem a orquestração original. A direção de Charles Möeller é precisa, e mantém todo o grande elenco dentro dos limites de exagero que o tom crítico do texto exige, e fazendo o espetáculo caminhar sem perder as variações que o humor exige.
Não é possível nomear todo o vasto elenco, mas todo o conjunto, em canto e dança, está muito bem. Gottscha e Ada Chaseliov são duas eficientes secretárias, Leo Wainer, Patau, Casio Pandolfi e Luiz Nicolau rendem tudo o que devem. Leticia Colin está leve e atraente no discreto papel da apaixonada Rosemary, mas os papéis mais cômicos têm as melhores oportunidades, e tanto Adriana Garambone, a secretária boa-burra, quanto Andre Loddi no sobrinho incopetente, têm atuações deliciosas.
E ainda cantam e dançam!
É praticamente impossível falar separadamente de Gregorio Duvivier, o ambicioso Finch, e de Luiz Fernando Guimarães, o bem-sucedido e incompetente presidente Biggley, porque os dois, cada um deles ótimo em si, se completam para dar ao todo o sentido crítico do musical; mas na verdade, cada um dos dois tem uma linha diversa, e cada um dos dois desempenha seu papel mais do que bem, e ainda cantam e dançam!
“Como vencer na vida sem fazer força” é um espetáculo muito divertido pelo texto, visualmente lindo e com atuações primorosas, o que o faz um ótimo entretenimento.