RIO — Stephen Schwartz, autor de “Pippin”, musical cuja remontagem estreia no Rio nesta sexta, não faz ideia do que foi a primeira produção brasileira, em 1974, com Sueli Franco e Marco Nanini nos principais papéis. Na ocasião, sua cabeça estava nas canções que fazia para “The magic show”, fantasia que caminhava para ser seu terceiro espetáculo simultaneamente em cartaz na Broadway. Em qualquer tempo, uma façanha para o compositor-letrista de apenas 26 anos. Hoje, às voltas com a produção de “Wicked, o filme”, baseado no seu espetáculo de 2003, ele não só se informa sobre o que se passa com o novo “Pippin”, como conversa com Cláudio Botelho por email sobre a adaptação e a tradução das letras.
— Tenho certeza de que o resultado será o melhor possível, já que as coisas estão sendo trabalhadas a partir do excelente revival deste show — diz ele por telefone, no intervalo das filmagens de “Wicked” em Los Angeles, referindo-se à montagem que Diane Paulus levou à Broadway em 2013, com final remodelado.
— Um dos primeiros, talvez. Não podemos esquecer o papel de pioneiros como Alan Menken e Andrew Lloyd Webber. Tentávamos todos fazer uma música mais contemporânea, preocupados em provar que, com ela, também podíamos contar uma história, transmitir uma emoção.
As lembranças sobre Fosse não são das mais tranquilas.
—Era homem difícil. Talentoso, mas difícil. Vários profissionais do teatro, e não apenas compositores, largaram projetos no meio por falta de diálogo com ele. Mas sua colaboração em “Pippin” foi valiosa. Um dos Tonys foi dele, com méritos.
Uma das intervenções de Fosse no espetáculo dizia respeito justamente à música. Certas canções tiveram o andamento modificado para atender melhor aos números de dança criados pelo diretor-coreógrafo. Com “Godspell”, “Pippin” e “The magic show” em cartaz, Schwartz viu-se, em pouco tempo, transformado não mais em promessa, mas em grande novo nome do show business. A responsabilidade de fazer um sucesso a cada produção não o perturbou. Tanto que, conscientemente, ele partiu para dirigir e escrever canções para “Working”, uma revista off Broadway baseada em livro de Studs Terkel.
— Vários escreveram canções para “Working” — diz. — Foi uma prova de que eu não pensava só no sucesso. Fazíamos ali uma espécie de documentário barato, não comercial, sobre os EUA. Eu já estava decidido a só fazer o que me interessasse.
SEM PROBLEMAS PARA FALAR DE FRACASSOS
Isso esclarece o fato de alguns de seus trabalhos terem conotação religiosa, não sendo ele religioso. “Godspel” é sobre o Evangelho segundo Mateus; as letras para “Missa”, de Leonard Bernstein, também lhe foram encomendadas. “Children of Eden” é sobre o livro de Gêneses. Entre estes projetos e “Wicked”, em cartaz na Broadway desde o começo do século XXI, houve fracassos.
— Comparando com “Wicked”, algumas tentativas mal sucedidas, como “Rags” (música de Charles Strouse, apenas duas noites em cartaz), “The baker’s wife” e “The children of Eden”, que não chegaram à Broadway, vejo que tudo é uma questão de escolha certa. Do tema, do ambiente, da mensagem que se quer passar. “Wicked” pode acontecer no mundo de Oz, o mesmo do filme de Judy Garland, mas a história recontada do ponto de vista das bruxas convida a uma leitura atual, interessante, nada fantasiosa.
“The magic show” foi montado em torno do ilusionista Doug Henning. Um espetáculo “para a família”, diz Schwartz. Tempos atrás, tentou-se repetir a fórmula com algo sobre a vida e os feitos de Harry Houdine. Muito se falou sobre as canções de Schwartz e sobre Hugh Jackman como provável Houdine.
— Nada deu certo, Jackman pulou fora, os roteiristas não se entenderam, não se encontrou um meio de “Houdine, o musical”, ganhar forma. Enfim, perdeu-se dinheiro e não se falou mais no assunto.
Schwartz acha música mais fácil de fazer do que letra, mas gosta de trabalhar em ambas, de preferência juntas. A rigor, só uma canção sua teve vida própria fora da peça ou do filme para o qual foi criada: “Day by day”, de “Godspell”. Mas faz questão de dizer que, em vez de visar ao hit parade, prefere canções funcionais, que ajudem a contar histórias. Cita como exemplo os longas de animação “O corcunda de Notre Dame” e “O príncipe do Egito”. Ganhar Oscars por “Colors of the wind” e a trilha de “Pocahontas” (música de Alan Menken, seu amigo), e pela canção “When you believe”, de “Príncipe do Egito” (música e letra suas) foi bom, mas Schwartz diz não correr atrás de prêmios:
— Tonys, Emmys, Oscars não significam muito mais do que o prazer de ganhá-los. Mas sim, chamam a atenção para seu trabalho — diz ele, que prefere não dar previsões sobre quando “Wicked” chegará às telas, mas não nega que a versão cinematográfica possa ter novas canções suas.